sábado, 13 de junho de 2009

Blog da Petrobras: resumão do cronista



Cercada pela proximidade de uma CPI sem objeto específico de investigação (ou seja: devassa e exposição midiática), a Petrobras se arma no ataque. Ataque aos agentes do perigo: a CPI e a própria imprensa. A CPI nasce das mãos do senador Álvaro Dias, coronel paranaense de longeva estirpe, com a missão de derrubar a popularidade (80% é covardia...) do governo Lula e mudar a correlação de forças pras eleições de 2010. A imprensa (no caso a “grande mídia”) encontra-se em litígio aberto com a estatal desde quando os interesses do grande capital se voltaram pro petróleo tupiniquim. A tática da estatal foi um blog onde a empresa publica dados e fatos que lhes são convenientes nesta peleja.

Acontece que a publicação no blog de respostas enviadas a jornalistas, antes mesmo da matéria ser escrita ou ir às bancas, cutucava a relação entrevistador-entrevistado. A exclusividade e o sigilo até o estouro da matéria nas bancas são instrumentos do repórter, direitos de quem questiona para verificar fatos e teses até ter um ponto de vista definido: a reportagem. Pro repórter, a assessoria de imprensa funciona como uma biblioteca, e o bibliotecário não tem direito de dizer a ninguém os livros q`aquele poeta anda lendo - no tempo certo, o livro do poeta será publicado e todo mistério pode vir à tona.

A quebra deste princípio ético acua o jornalista. Também acua porque boa parte do jornalismo praticado carece de responsabilidade tanto na apuração, quanto na redação/edição das matérias. Ter as respostas na integra publicadas na internet desmonta as mágicas da edição e da distorção do apurado. Neste sentido, o blog cumpre uma missão gloriosa à cidadania. O detalhe de se publicar a integra antes ou depois da reportagem ir às ruas é que separa o joio do trigo. Publicar antes acua o bom repórter, desmonta o bom jornalismo investigativo - e coloca o bom e o mau jornalistas na mesma trincheira contra a iniciativa da Petrobras.

A Petrobras recuou, e isso foi um bom passo. Mas alguns posts “comemorativos” dão a sensação de haver perdido o senso, entorpecida pelo apoio massivo recebido dos internautas. Talvez não tenha entendido que o aplauso foi para a ação de transparência e objetividade de um órgão público. Não foi apenas o aplauso à Petrobras: foi principalmente o aplauso à boa lógica de uma empresa estatal. Publicar dados e fatos objetivos de temas abordados pela “grande mídia”, assim como a íntegra dos pronunciamentos da empresa para os repórteres, depois que a reportagem estiver nas ruas – fórmula simples, não?

Os aplausos esperam que a fórmula simples faça escola no aparelho do Estado. Querem transparência na lida com a coisa pública. Esperam especificamente que a Petrobras não distorça a excelente ferramenta que criou, transformando-a em mera arma de disputa ideológico-eleitoreira. Os aplausos votam uma vez a cada dois anos, mas agora admitem a possibilidade de maior participação política (cidadania) através de ferramentas da internet. A lisura desta ferramenta pública é sua única chance – e está nas mãos da Petrobras.

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