sábado, 6 de junho de 2009

melhor de três num beco escuro


Certa madrugada, num beco escuro do centro do Recife, vinha o cronista pela calçada. Ao longe, na mesma calçada e em direção inversa, outro homem. Tanto espaço no bequinho, e o sujeito vinha logo de frente? Baixo a cabeça e atravesso a rua, pra evitar o confronto. Quando dou conta: o homem está mais perto, e na mesma minha calçada. Agora, sim, seria um assalto. Aproveito minha estatura pra impor certa reflexão ao oponente. Estufo o peito, prendo a respiração, coloco a mão direita dentro da camisa – veja bem: sou fortão e estou armado. No instante exato do inevitável, olho pro sujeito e vejo nos seus olhos pânico maior que o meu. Passou veloz e acuado ao meu lado, carregando a certeza de ser assaltado por mim.

Não tem muita graça, a história, mas sempre a associo à arenga midiática entre Jarbas Vasconcelos e Eduardo Campos. De um lado, acossado pela União por Pernambuco pra ser candidato, o senador acusa o sucessor de fazer um “Governo Virtual”, sem obras reais. Por sua vez, o atual governador zomba, diz que o tempo do senador “JÁ passou”, que Jarbas vai ao interior se reunir em auditórios com meia dúzia de pessoas, enquanto ele enche as ruas dos municípios por onde passa. No fundo, ambos esperam e temem o confronto, provável e histórico, em 2010.

Provável, porque a única chance de sucesso avistada pela atual oposição tem nome de Jarbas – este, homem de projeto, vai acabar se curvando. Antes disso, quer reestruturar a ex-vitoriosa aliança na base, nos diretórios do interior, nas relações entre os três grandes partidos da União por Pernambuco; resolver as pendências internas nas cidades onde a união está desunida; trazer Sérgio Guerra pro discurso; enfim, trabalhar duro pra construir uma possibilidade real de vitória, e não apenas uma candidatura de revanche. Entrar pra perder daria razão à pecha de “JÁ passou”.

Histórico, porque finaliza a melhor de três entre a União por Pernambuco e o grupo do finado Governador Miguel Arraes. Na primeira deu Jarbas, numa surra humilhante no velho mito. Na segunda, Dudu Campos vingou o avô, numa vitória retumbante sobre o grupo jarbista. Agora, estarão frente a frente, sem intermediários. Uma batalha de titãs – ou de cachorros grandes, a julgar pelo nível que a disputa começa a tomar nas páginas noticiosas.

Se até 2006 Jarbas era tido como imbatível eleitoralmente, de lá pra cá Eduardo Campos construiu uma situação que equilibra (ou inverte?) as coisas. O neto de Arraes se tornou homem de confiança do presidente Lula, comanda o Campo das Princesas, está bem aprovado nas pesquisas e demonstra uma capacidade de articulação que fez desmoronar a base da União por Pernambuco no interior. Não adianta mudar de calçada, nem torcer pra que o que vem esteja com mais medo. E se ambos afirmam que 2010 só se trata em 2010, é porque querem preparar seus exércitos, investir no seu lado da correlação de forças, consolidar e ampliar posições pro momento (tão esperado) do grande confronto. Senhoras e senhores, façam suas apostas.

Um comentário:

  1. rss... coisas muídas, heim! Muito bem situado, caro Cronista. Bacana sim conhecê-lo melhor. Papo bacana. Inspirei esperança a noite toda.

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